sábado, 6 de setembro de 2014

The Final Tour: University of Limerick (III)

Para encerrar essa saga de posts da UL, no primeiro post falei de uma lição valiosa aprendida aqui com o jeito "irish" de se pensar: "life is too short, you better enjoy it" e com isso fui aprendendo uma série de outras coisas que talvez signifique o mesmo para muita gente (ou talvez não) e essa universidade devo dizer (a Irlanda em especial), me ajudou muito a descobrir o que de fato sou e como ir atras do equilíbrio das coisas.

Tá bom Cecília, mas o que você aprendeu? Aprendi primeiramente a olhar ao redor, respirar e sentir a presença de cada lugar que fui... Na UL eu poderia apenas ir estudar e ir para a academia, mas no lugar disso acordava a cada dia, via a ponte do Thomond da minha janela e quando dava ia correr pela trilha ouvindo músicas que combinassem com o local, eu poderia comer miojo todo dia mas não apenas cozinhava de fato (sem nunca ter feito isso praticamente) como passava por todo ritual antes de cozinhar: tomar banho e ir no bom humor para a cozinha, as vezes cozinhava tomando uma taça de vinho (vinho bom que custa tipo 5 euros uma garrafa), ouvia uma boa música enquanto isso e hora e meia fazia coisas novas na cozinha. São coisas simples do dia a dia e que li diversas vezes em sites e naqueles livros que te fazem sentir bem e ter um bom dia, mas que sinceramente não é nem exatamente que meu dia a dia nunca me permitisse isso, mas que não me passava pela cabeça a vontade de fazer e viver isso sem soar natural. Hoje faço como se fosse uma rotina :)

Com isso de olhar ao redor e sentir tudo aquilo ali, que na UL e na Irlanda de forma geral significava absorver todo esse verde e calmaria maravilhosos desse país, aprendi também que ao menos por um ano eu teria condições de amar meus amigos e demonstrar como amo todos eles, e de sentir tudo que a Irlanda proporciona não só para mim, mas para aqueles que me importo também. Como? Com coisas simples do dia a dia, finalmente tinha dinheiro que podia parar em algum lugar, ver algo que lembrasse um amigo e presenteá-lo com algo que só ele soubesse o real significado, independente de data alguma. Da mesma forma que tinha meus rituais de cozinha, adorava fazer isso e do nada aparecer com um prato diferente para os meus amigos ou até mesmo cozinhar com eles. Assim como absorver a cultura local em conjunto e parar no fim da tarde para um chá e conversar, ou ir para o píer e até mesmo correr junto outras vezes. Em resumo, aprendi aqui a ser ainda menos egoísta e fazer tudo o que posso para estar sempre ali presente, até porque afinal, aqui não se tinham anos para ter segundas chances, era um ano para amar sem remorço e ser feliz até o fim, porque depois todos esses amigos queridos estariam a quilômetros de distância. 

E fora da Irlanda? Fora da Irlanda isso não mudou nenhum pouco, nas viagens aprendi que viajar em conjunto é de fato viajar em conjunto, isso não significa claro estar junto 24hrs por dia porque afinal de contas, cada pessoa tem interesses distintos, mas sim que você deve ter uma mente que pensa em conjunto, você deve combinar as coisas, tentar ser pontual e direto com as coisas que te agradam ou não, porque afinal viajar junto significa longos dias de convivência e sinceramente se você não falar o que não te agrada no fim do dia você está se matando com os colegas, não importa nível de amizade que tenha.  Com isso veio outra lição importante: pensar um pouco em você! Me disseram isso várias vezes e quebrei a cara várias vezes também até perceber o que deveria ser feito. Isso é uma das maiores lições de intercâmbio inclusive na minha opinião... Se virar sozinho, seus amigos são uns amores, mas como disse cada um tem preferências e se você não correr atrás das suas você fica para trás... Não estou dizendo para sabotar seus amigos ou fazer tudo sozinho, pelo contrário... Me refiro a viver com seus amigos tudo isso que é maravilhoso, mas ao mesmo tempo ser claro com eles sobre o que você quer primeiro para não dar confusão. Sempre deixar as coisas esclarecidas e ir atrás do que você quer não há mal exatamente algum! Então acordou e achou aquele lugar bacana na viagem para ir? Jogue a ideia para os seus amigos e se não animarem, não fique esperando por isso, diga que vá e combine um lugar de reencontro depois e vá embora sem medo de ser feliz! Nada dá mais prazer do que uns bons ares diferentes e sozinho de vez em quando, te prometo! :-) Independência não significa ter seu próprio dinheiro, despesas e morar sozinho, significa ser digno, respeitoso e claro quanto a seus objetivos a medida do possível. Isso parece ser óbvio mas por incrível que pareça é algo que por mais que seja dita não se aprende de um dia para outro.

Aproveitar que falei de viagem e falar um pouco sobre isso também... Muita gente tem uma sede de viajar e conhecer o mundo, eu tinha evidentemente mas não muito. Viajar é a coisa mais deliciosa no mundo, conhecer novos lugares não é apenas ir no mapa e ver pontos turísticos mais belos do mundo, viajar é primeiramente uma sensação de liberdade sem tamanho! Eu não senti isso assim que cheguei na Irlanda porque para mim mesmo que estivesse viajando era como se fosse a minha casa, mas ao viajar temporariamente para outros países percebi a liberdade que se sente, liberdade em ver novas culturas, rostos com traços diferentes, comidas diferentes, diferentes arquiteturas, diferente tudo, mais uma vez absorver isso aí para si e depois perceber como o país que você vive é maravilhoso!

Vi então que ir a Paris por exemplo era pisar lá e respirar a cultura novamente, não chegar e ver a torre Eiffel e fim, mas perceber a arquitetura dos lugares que era diferente, as pequenas ruas e restaurantes, mas também perceber que as pessoas já não eram tão gentis e sorriam sem motivo aparente algum como na Irlanda, vi que a Alemanha é o exemplo próprio de ter garra para crescer e ir atrás do que de fato quer na vida, percebi a importância de ter orgulho do seu país e prezar os verdadeiros artistas como vi na Áustria, vi na Suiça que tem lugares que não precisam ter nada demais, cidades que não precisam ter um ponto turístico de referência mas que um simples parque ou lago te trará um desejo de retornar ali tão quanto os mais famosos. Suiça inclusive foi um dos lugares que mais aprendi o valor das coisas simples da vida, por mais rica que seja a sociedade desse país a vida ali não era andar de nariz empinado e roupas de marca e sim fazer coisas que te dê paz de espírito. E vi, principalmente, que intercâmbio é aprender mais sobre o próprio Brasil e ver como lindo ele é, parece até bobagem pensar nisso porque se eu fosse comparar todos os países que fui com o Brasil todos eles teriam uma filosofia de vida que na minha opinião tem muitas vantagens do que o Brasil, mas ainda assim, passar um ano com tanta gente dos quatro cantos do Brasil te faz absorver a cultura de fora também, viver e aprender a ser diferente e a ser você mesmo também! Você conhece tanta gente de tantos tipos que todas as inseguranças que tem de si mesmo são bobagem, sabe porque? Porque você encontrou ao menos uma pessoa de outra região que pensa igual ou faz algo tão estúpido quanto as coisas que você faz e ai vem a outra lição: viajar e viver todas as diferenças do mundo te ajuda a te reencontrar e juntar todas as peças do quebra cabeça chamado você! Tudo o que você sente e pensa de repente fica muito mais claro para você mesmo, é o momento que justamente por tá vivendo tanta coisa intensa e diferença de uma só vez, coisas que podem durar 2 dias como simples viagens ou um ano como na Irlanda, mas que de fato te fazem enxergar como você de fato funciona e o que você de fato faz, te ajuda em outras palavras a sair da "bolha", da fantasia ou do seu mundo particular.

Devo dizer inclusive que essa foi uma das lições mais difíceis de serem feitas, é um choque entre o eu antigo eu e o novo e o tão dito equilíbrio nesse sentido fica difícil, mas que após alguns meses você aprende a preservar o que tinha de bom antes e ao mesmo tempo ser alguém de coração aberto, caindo de cabeça nesse mundo que tem tanto a explorar.

Para encerrar (finalmente), o intercâmbio também te ajuda a ser menos bobo também sobre muita coisa, ao mesmo tempo que você aprende a viver mais o que está ao teu redor e a valorizar o que ama nas coisas mais corriqueiras possíveis, saindo um pouco da bolha, ele te ensina a ser menos idiota. Os irlandeses me ajudaram muito a sempre vir com um sorriso aberto e ser educado com todo mundo ao redor, mas isso é obrigação sua e com todo mundo, até com seus amigos. Eu aprendi muito aqui que amar amigos significa fazer o que você pode fazer porque é o mínimo que qualquer ser humano faria por outro, mas de certa forma é cada um no seu lugar, vivendo a sua vida. Você pode estar sempre por perto, mas você não pode depender totalmente de alguém por ser seu amigo e confiar muito nele, essa é a verdade. E isso não te faz a pior pessoa do mundo e muito menos o seu amigo por não te tratar igual, apenas significa que vocês tem visões diferentes, então viva a sua vida e ajude as pessoas queridas para ti quando vê que existe a necessidade disso, esteja sempre ali na "tocaia", mas não fique dependente, fique longe até que é um direito seu, se vierem para ti de volta em algum momento então você é tão querido para essa pessoa quanto ela é para você, e assim vai vivendo a vida, porque se não for assim você vai quebrar a cara eternamente e sem motivo algum, e ainda pensando horrores de pessoas que antigamente você considerou tão querido como sua família.

Bom, essas foram as principais coisas que aprendi no meu intercâmbio, seja gentil, ame todos, seja querido e demonstre que se importa com quem se ama, mas viva a sua vida independente disso e principalmente: abrace a cultura que está vivendo. E aí você me pergunta mas Cecília e no Brasil, o que você vai fazer? Ora, como eu disse passei uma ano vendo como gigante e cultural esse país é também. Então te falar que vou voltar, darei aquele "arroxo" nos amigos que ficaram longe mas que como disse, continuaram sendo queridos com você mesmo cada um na sua toca e vou agora de fato conhecer a minha cidade, contemplar a arquitetura e as cidades estreitas do centro da cidade, as praias, perceber aquela decepção básica também do choque de realidade que é enorme e farei o mesmo em muitas outras partes do Brasil também, com mil registros e enriquecimento cultural que jamais tive antes desse ano. Vou curtir o samba e o frevo, quem sabe até o forró uma vez no ano apenas por diversão, serei pela primeira vez turista do meu próprio país, da minha própria cidade.E claro, estarei sempre aqui narrando e mostrando meus registros de sempre neste blog que não se chama "Leprechaun Sem Fronteiras" a toa, meu coração hoje é até muito mais irlandês do que brasileiro, então uma vez leprechaun sempre leprechaun... E agora nos quatro cantos do mundo que tive noção da dimensão dele e juntarei cada centavo para conhecer cada buraco dele! 

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